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Teshuvá e Arrependimento
“Arrependimento” em hebraico não é teshuvá mas charatá. Não apenas estes termos não são sinônimos, como são opostos. Charatá implica remorso ou um sentimento de culpa pelo passado e uma intenção de comportar-se de maneira completamente nova no futuro. A pessoa decide tornar-se “um novo homem”. Porém teshuvá significa “retornar” ao antigo, à natureza original da pessoa.
Sublinhando o conceito de teshuvá está o fato de que o judeu na essência é bom. Desejos ou tentações podem desviá-lo temporariamente de ser ele mesmo, de ser verdadeiro à sua essência. Porém o mal que ele faz não é parte, nem afeta, sua verdadeira natureza. Teshuvá é um retorno a si mesmo. Enquanto o arrependimento envolve descartar o passado e começar de novo, teshuvá significa voltar às raízes em D'us e expô-las como o verdadeiro caráter da pessoa.
Por este motivo, embora o justo não tenha necessidade de se arrepender, e o perverso possa ser incapaz disso, ambos podem fazer teshuvá. Os justos, embora jamais tenham pecado, precisam constantemente se esforçar para retornar ao seu íntimo. E os perversos, por mais distante que estejam de D'us, sempre podem retornar, pois teshuvá não envolve criar nada de novo, apenas redescobrir o bem que sempre esteve dentro deles.
Tefilá e Prece
“Prece” em hebraico não é tefilá, mas bakashá. E mais uma vez esses termos são opostos. Bakashá significa rezar, pedir, implorar. Mas tefilá significa apegar-se. Em bakashá a pessoa pede a D'us que provenha para ela, do alto, aquilo que precisa. Portanto quando não está precisando de nada, ou não sente desejo de um presente do Alto, bakashá se torna redundante.
Porém na tefilá a pessoa procura apegar-se a D'us. É um movimento vindo de baixo, do homem, na direção de D'us. E isto é algo apropriado a todos e a qualquer tempo. A alma judaica tem um vínculo com D'us. Mas também habita um corpo, cuja preocupação com o mundo material pode atenuar aquele vínculo.
Portanto ele precisa constantemente ser fortalecido e renovado. Esta é a função da tefilá. E é necessária para todo judeu. Pois embora possa haver aqueles que não precisam de nada e assim nada têm a pedir para D'us, não há ninguém que não precise apegar-se à fonte de toda a vida.
Tsedacá e Caridade
A palavra hebraica para “caridade” não é tsedacá, mas chessed. E mais uma vez essas duas palavras têm significados opostos. Chessed, caridade, implica que o receptor não tem direito ao presente e que o doador não está sob a obrigação de dá-lo. Ele a dá gratuitamente, pela bondade do seu coração. Seu ato é uma virtude, e não um dever.
Por outro lado, tsedacá significa integridade ou justiça. A implicação é que o doador dá porque é seu dever. Pois, primeiramente, tudo no mundo em última análise pertence a D'us. As posses de um homem não são suas por direito. Em vez disso, são confiadas a ele por D'us, e uma das condições daquela confiança é que ele deve dar àqueles que passam necessidade.
Em segundo lugar, um homem tem o dever de agir em relação aos outros como ele pede a D'us que aja para com ele. E assim como pedimos a D'us as Suas bênçãos embora Ele nada nos deva e não tenha obrigação, também somos obrigamos pela justiça a dar para aqueles que nos pedem, embora não estejamos de maneira alguma em débito com eles. Dessa maneira somos recompensados. Medida por medida. Porque damos livremente, D'us dá livremente a nós.
Isso se aplica em particular à tsedacá, que é dada para apoiar as instituições de estudo de Torá. Pois todo aquele que é educado nessas instituições é um futuro alicerce de uma casa em Israel, e um futuro guia para a próxima geração. Este será o produto da sua tsedacá – e seu ato é a medida de sua recompensa.
Três Caminhos
Estes são os três caminhos que levam a um ano “escrito e selado” para o bem. Ao retornar para o ser interior (teshuvá), apegando-se a D'us (tefilá) e distribuindo as próprias posses com justiça (tsedacá), a pessoa transforma a promessa de Rosh Hashaná no abundante cumprimento de Yom Kipur: um ano de doçura e plenitude.
Fonte: Licutei Sichot, vol. II, págs. 409-411
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